

Venezuela realiza exercícios militares e simulação de emergência ante 'ameaça' dos EUA
A Venezuela realizou neste sábado (27) novos exercícios militares e uma simulação para atender emergências, em meio ao temor de uma eventual invasão dos Estados Unidos, país que posicionou uma flotilha armada no Caribe.
A mobilização se soma a outros movimentos de tropas, e a jornadas de alistamento de civis na reserva militar, que receberam treinamento em quartéis e nas comunidades populares.
O governo de Nicolás Maduro denuncia como uma "ameaça" a presença militar americana no sul do Caribe, para onde o governo do presidente Donald Trump enviou oito navios de guerra e um submarino de propulsão nuclear como parte de um plano para combater o tráfico de drogas.
Washington garante que, nas últimas semanas, destruiu pelo menos três embarcações supostamente carregadas com drogas provenientes da Venezuela com um saldo de 14 mortos, uma ação descrita como "execução extrajudicial" por especialistas das Nações Unidas.
Além disso, segundo fontes citadas na sexta-feira pelo canal americano NBC, "responsáveis militares dos Estados Unidos estão elaborando opções para atacar os traficantes de drogas dentro da Venezuela".
Maduro disse que tem um decreto pronto para declarar um estado de exceção, um "instrumento constitucional" que tem em suas mãos "para o caso de a pátria ser agredida militarmente".
Seu chanceler Yván Gil disse que se reuniu com o secretário-geral da ONU António Guterres.
O mais alto funcionário das Nações Unidas "afirmou que considera injustificada e inaceitável a ameaça militar dos Estados Unidos no Caribe, uma ação que viola a Carta da ONU e coloca em risco a estabilidade e a soberania de toda a região", escreveu Gil no Telegram.
- 'Não queremos' guerra -
A simulação deste sábado foi planejada para enfrentar desde um terremoto e um tsunami até um conflito bélico, segundo um documento oficial. Cerca de 400 centros de treinamento foram habilitados.
Os primeiros exercícios da manhã se concentraram em atender emergências sísmicas, depois que o país registrou esta semana uma série de tremores, entre eles dois com magnitudes 6,2 e 6,3.
Funcionários da Defesa Civil compareceram a escolas para dar palestras sobre os protocolos em caso de um terremoto.
O objetivo, estimou Richard Carpio, um funcionário público de 57 anos, é que, "diante de qualquer evento que possa ocorrer no país, [...] todo o mundo saiba o que precisa fazer".
"Somos um país de paz, não queremos nenhum tipo de guerra, nenhum tipo de intervenção", disse ele à AFP.
Na escola Mariano Picón Salas do gigantesco complexo de comunidades de Petare, a simulação começou depois que um funcionário da Defesa Civil disse que havia um tremor. Em seguida, começaram a sair cerca de 300 pessoas, incluídos muitos idosos, em fila: uma mão tocando o ombro do companheiro e a outra protegendo a cabeça.
Na avenida conexa, muitos não tinham conhecimento da simulação. Isso também ocorreu em outros pontos de Caracas, onde o dia transcorria com normalidade.
A simulação se repetiu em outras escolas e espaços públicos da Venezuela, segundo imagens da emissora VTV. Funcionários da Defesa Civil levavam macas até ambulâncias, rastejavam pelo chão para demonstrar como se mover em locais restritos e verificavam sinais vitais.
- 'Preparados' -
O plano do governo para um conflito bélico contempla a preparação de refúgios e protocolos de evacuação.
Além disso, a Força Armada Nacional Bolivariana da Venezuela (FANB) divulgou imagens de exercícios militares em estados com litoral no Mar do Caribe.
Sofisticados mísseis antiaéreos Pechora, de fabricação russa, foram enviados para Cabo de San Román, na península de Paraguaná (noroeste), a cerca de 27 km de Aruba. Os militares dispararam canhões em direção ao mar e desembarcaram veículos anfíbios de um fragata que foram transferidos para terra.
Ademais, os militares concluíram exercícios de ocupação de zonas costeiras em Isla de Patos, ponto fronteiriço com Trinidad e Tobago, com helicópteros e paraquedistas.
No estado de Sucre (nordeste), realizaram uma operação antidrogas que resultou na prisão de 30 pessoas.
A FANB também publicou nas redes imagens de exercícios de militares nos quais realizavam disparos de artilharia e fuzis.
A prefeita de Caracas, Carmen Meléndez, indicou mais cedo que "corpos combatentes" civis compareceram ao forte militar Tiuna para "aprender a usar todas as armas". "Se tivermos que passar para a luta armada, estejamos preparados", frisou.
S.Lambert--JdB