

Netanyahu quer tomar Gaza, mas 'não governá-la'
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou, nesta quinta-feira (7), que Israel deseja assumir o controle total da Faixa de Gaza, mas não governá-la, pouco antes de uma reunião de seu gabinete de segurança para discutir os planos de guerra no território palestino.
"Temos a intenção", respondeu Netanyahu quando perguntado, durante entrevista para a Fox News, se Israel tomaria o controle de "toda Gaza", um território de 365 km2, onde vivem cerca de dois milhões de palestinos.
Questionado se Israel voltaria a controlar toda Gaza, como fez entre 1967 e 2005, ele respondeu: "Bem, não queremos mantê-la. Queremos ter um perímetro de segurança. Não queremos governá-la".
"Queremos entregá-la a forças árabes que governem adequadamente sem nos ameaçar e oferecendo aos habitantes de Gaza uma boa vida. Isso não é possível com o Hamas", acrescentou, sobre o movimento islamista palestino que governa o território.
A entrevista ocorreu pouco antes de Netanyahu participar de uma reunião de seu gabinete de segurança sobre os planos de guerra em Gaza, desencadeada em 7 de outubro de 2023 após o ataque do Hamas em Israel.
Ao iniciar a reunião, centenas de pessoas se concentraram perto do gabinete do primeiro-ministro em Jerusalém para pedir um acordo para libertar os reféns, que já suportaram 22 meses em cativeiro.
Mais cedo, familiares dos reféns zarparam do porto de Ascalom com a intenção de se aproximar "o máximo possível de seus entes queridos" na Faixa de Gaza.
- "Sacrificar os reféns" -
Dos 251 reféns capturados durante o ataque do Hamas em 2023, 49 ainda permanecem retidos em Gaza, incluindo 27 que, segundo o exército, estariam mortos.
O movimento islamista palestino acusou Netanyahu, nesta quinta-feira, de sacrificar os reféns.
"Os planos de Netanyahu para escalar a agressão confirmam sem sombra de dúvida seu desejo de se livrar dos cativos e sacrificá-los em busca de seus interesses pessoais e agenda ideológica extremista", disse o Hamas em um comunicado.
Antes da reunião desta quinta-feira, a imprensa israelense mencionou divergências entre o gabinete e o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, que seria contrário aos planos de reocupar completamente Gaza.
Na quarta-feira, o ministro da Defesa, Israel Katz, disse pelas redes sociais que "é correto e dever do chefe do Estado-Maior expressar sua posição", mas lembrou que o exército deve, afinal, respeitar qualquer política adotada pelo governo.
Em um novo front interno para Netanyahu, judeus ortodoxos convocaram uma mobilização contra a obrigatoriedade do serviço militar, à qual a maioria escapa por enquanto, mas que o Estado agora pretende impor a eles. Centenas de ortodoxos protestaram nesta quinta-feira em Jerusalém.
- "Mais destruição e morte" -
"As operações terrestres significam mais destruição e morte. Não há lugar seguro em nenhuma parte", disse Ahmad Salem, de 45 anos.
O exército israelense ocupa ou opera atualmente em terra em cerca de 75% da Faixa de Gaza, principalmente de suas posições permanentes no território ao longo da fronteira. Bombardeia onde considera necessário.
A pressão internacional é cada vez maior diante do sofrimento dos mais de dois milhões de habitantes palestinos de Gaza, após a ONU alertar sobre uma "fome generalizada" no território sitiado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que pelo menos 99 pessoas morreram devido à desnutrição em Gaza até agora este ano, embora o número provavelmente esteja subestimado.
O deslocado de Gaza Mahmoud Wafi disse que os preços dos alimentos disponíveis continuam altos e instáveis.
"Esperamos que os alimentos voltem a ser oferecidos em quantidades normais e a preços razoáveis porque não podemos mais pagar esses custos extremamente altos e irreais", disse o homem de 38 anos à AFP.
Amjad Al-Shawa, chefe da Rede de ONGs Palestinas na Faixa de Gaza, disse à AFP que os longos procedimentos de inspeção nos pontos de entrada limitam o acesso a "entre 70 e 80" caminhões por dia, muito aquém dos 600 que, segundo a ONU, seriam necessários.
G.Lenaerts --JdB