Journal De Bruxelles - Chefe da Comissão Europeia afirma que moção de censura foi retirada do 'manual dos extremistas'

Chefe da Comissão Europeia afirma que moção de censura foi retirada do 'manual dos extremistas'
Chefe da Comissão Europeia afirma que moção de censura foi retirada do 'manual dos extremistas' / foto: Frederick Florin - AFP/Arquivos

Chefe da Comissão Europeia afirma que moção de censura foi retirada do 'manual dos extremistas'

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enfrentou nesta segunda-feira (7) no Parlamento Europeu o debate inicial de uma moção de censura com poucas chances de êxito, que considerou saída do "manual dos extremistas".

Tamanho do texto:

A moção "é tirada diretamente do velho manual dos extremistas, que divide a sociedade e erosiona a confiança na democracia com alegações falsas", disse Von der Leyen.

Além disso, ressaltou, a União Europeia enfrenta desafios geopolíticos que tornam urgente demonstrar unidade.

"Quando a Comissão se sentar com os Estados Unidos para negociar sobre comércio e tarifas, a Europa deve mostrar força. Quando defendermos o futuro da Ucrânia, a Europa deve mostrar sua força", afirmou.

"Essa força só vem por meio da nossa unidade. Então vamos nos unir", reforçou.

A moção foi promovida por um setor da extrema direita no Parlamento Europeu e praticamente não tem nenhuma chance de provocar a queda de Von der Leyen na votação marcada para a quinta-feira.

Um parlamentar romeno de extrema direita, Gheorghe Piperea, iniciou o processo. Ele critica a falta de transparência da dirigente e da Comissão no chamado escândalo "Pfizergate".

Von der Leyen nunca tornou pública uma troca de mensagens de texto com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, durante a pandemia de coronavírus, quando a Comissão estava negociando a compra de grandes quantidades de vacinas do laboratório.

O caso motivou fortes críticas de várias associações da sociedade civil europeia.

O jornal The New York Times recorreu à Justiça para ter acesso à troca de mensagens, mas descobriu que o conteúdo não havia sido preservado.

Em seu discurso perante a plenária do Parlamento Europeu, Von der Leyen disse nesta segunda-feira que a moção se baseava em "teorias da conspiração já desacreditadas" e na visão de pessoas contrárias ao uso de vacinas.

Piperea também acusa a Comissão Europeia de "interferir" nas eleições presidenciais da Romênia em maio, que tiveram como vencedor Nicusor Dan, um apoiador da União Europeia.

O nacionalista Calin Georgescu havia vencido um pleito anterior, em novembro, que foi anulado pelo Tribunal Constitucional do país devido a irregularidades e suspeitas de interferência russa.

- "Uma vergonha" -

Embora a moção deva receber o apoio de parte do bloco de extrema direita, a tentativa de destituir Von der Leyen parece fadada ao fracasso.

O próprio grupo político de Piperea, os Conservadores e Reformistas (ECR), já se distanciou da ideia.

Além disso, o bloco ECR inclui legisladores que respondem à primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, que é mais conciliadora em relação à presidente da Comissão.

Enquanto isso, o maior bloco do Parlamento Europeu, o majoritário Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), está unido em torno de Von der Leyen, uma das principais figuras deste partido.

O equilíbrio político do Parlamento Europeu tem como base um tripé formado pelo PPE, os Socialistas e Democratas (S&D, centro-esquerda) e o Renew (liberais centristas).

Embora os social-democratas e os centristas não escondam sua irritação com o crescente conservadorismo de Von der Leyen, dificilmente apoiarão uma iniciativa de extrema direita que desencadeie uma crise institucional.

Os dois blocos têm criticado regularmente o PPE por suas ambiguidades em relação à extrema direita, sobretudo por se juntar ao questionamento das leis ambientais.

Outra reclamação é a gestão cada vez mais centralizada de Von der Leyen em seu segundo mandato.

O episódio que levou as tensões ao ponto de ruptura foi a ameaça da Comissão de retirar um projeto de lei contra o 'greenwashing' corporativo, que já está sendo negociado no Parlamento Europeu.

A iniciativa foi recebida como uma afronta pelos eurodeputados.

Uma moção de censura à Comissão Europeia nunca foi aprovada anteriormente.

O.M.Jacobs--JdB