Journal De Bruxelles - Neurociência, uma carta na manga do Palmeiras de Abel Ferreira

Neurociência, uma carta na manga do Palmeiras de Abel Ferreira
Neurociência, uma carta na manga do Palmeiras de Abel Ferreira / foto: FRANCK FIFE - AFP

Neurociência, uma carta na manga do Palmeiras de Abel Ferreira

Eletrodos que estimulam áreas do cérebro. Realidade virtual para que um jogador de futebol emule situações em campo. Jogos de agilidade mental. A neurociência aplicada ao esporte é uma carta na manga do Palmeiras de Abel Ferreira.

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Classificado para as oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes, fase em que enfrentará o Botafogo no próximo sábado, o 'Verdão' somou títulos importantes sob o comando de Abel nos últimos anos: duas Copas Libertadores (2020 e 2021), dois Campeonatos Brasileiros (2022 e 2023) e uma Copa do Brasil (2020), além da Recopa Sul-Americana (2022).

Usar técnicas vinculadas à neurociência durante a recuperação pós-jogo dos atletas "ajuda para melhora a capacidade de tomada de decisões, o foco e a resposta em campo", explica Daniel Gonçalves, coordenador de rendimento do clube paulista.

"Potencializa a recuperação física em dias de treino regenerativo", acrescenta Daniel.

O Palmeiras investiu cerca de R$ 5 milhões em tecnologia. A rotina é complementada com sessões de acupuntura, pilates e outras opções à escolha do jogador.

O motivo: a neurociência permite entender o que acontece no cérebro de um jogador de futebol sob condições de alta pressão, monitorar o impacto de seu estado emocional em seu desempenho e, ao mesmo tempo, treinar para circunstâncias de jogo nas quais é preciso tomar decisões em frações de segundo.

- "Ajudou muito" -

Poucos dias antes da viagem do elenco aos Estados Unidos para a Copa de Clubes, uma das promessas do clube, o atacante Thalys, colocou um óculos de realidade virtual e segurou um pequeno controle nas mãos, em cima de um tapete sensível aos seus movimentos.

Começava então a simulação em primeira pessoa: uma tela enorme na frente do jogador de 20 anos permitia observar o que ele estava vendo, um panorama semelhante ao de um videogame.

"Excelente passe!", aparecia na tela, em inglês, após uma boa jogada.

Desde o primeiro dia, jovens como Thalys se mostraram muito receptivos à iniciativa, colocada em prática há três anos, a pedido de Abel Ferreira.

"Acho que me ajudou muito. Ajuda tomar melhores decisões em campo", conta o jovem atacante em uma pausa.

Jogadores mais experientes foram, a princípio, "relutantes", revela Gisele Silva, psicóloga do Palmeiras. "Eles perguntavam: 'Qual é o sentido disso? Eu trabalho de uma certa maneira há muitos anos e tem funcionado para mim'. Mas, aos poucos, eles aceitaram a ideia".

- Ativação mental -

Gigantes de Europa como, como o Liverpool, também aplicam a neurociência.

Passou a ser comum, por exemplo, ver os jogadores do clube inglês treinarem com aparelhos que monitoravam sua atividade cerebral durante o ciclo do técnico Jürgen Klopp (2015-2024).

Pouco depois da sessão de realidade virtual, Thalys se sentou em uma cadeira e Luciane Moscaleski, especialista em neurociência do Palmeiras, coloca cuidadosamente no jogador uma touca com eletrodos. Ajusta cada um deles no lugar exato em que devem estar.

Leves correntes elétricas, que uma sensação de formigamento, começam a circular para estimular áreas do cérebro e, gradativamente, vem uma sensação de relaxamento.

O objetivo de todo este trabalho é a "ativação mental, neural e neuromuscular", explica Luciane.

Diante de uma tela na parede, em outro exercício, Thalys escolhe figuras que se alternam em segundos em um dos jogos de velocidade mental disponíveis para o elenco.

Depois de tudo, como diz o ditado: "Mente sã, corpo são".

H.Raes--JdB