Journal De Bruxelles - Mulheres continuam marginalizadas nos cargos mais altos das marcas de moda

Mulheres continuam marginalizadas nos cargos mais altos das marcas de moda
Mulheres continuam marginalizadas nos cargos mais altos das marcas de moda / foto: Stefano RELLANDINI - AFP

Mulheres continuam marginalizadas nos cargos mais altos das marcas de moda

A nomeação de Maria Grazia Chiuri para o comando da Fendi esta semana não muda muito o panorama geral: as mulheres continuam sendo marginalizadas nos cargos criativos das grandes marcas, apesar de seu papel histórico na indústria da moda.

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Durante as recentes Semanas de Moda, em setembro e outubro, uma dúzia de estilistas estrearam à frente de marcas renomadas. Em Paris, Chanel, Dior, Balenciaga, Loewe e Jean Paul Gaultier apresentaram as primeiras coleções de seus novos diretores artísticos. Em Milão, o mesmo aconteceu com Gucci, Versace e Bottega Veneta.

Em apenas um caso, a nova diretora foi uma mulher: a estilista britânica Louise Trotter, da Bottega Veneta.

Seu antecessor, Matthieu Blazy, agora diretor artístico da Chanel, e Jonathan Anderson, da Dior, substituíram as estilistas Virginie Viard e Maria Grazia Chiuri, respectivamente.

"Parecia que havia uma pequena abertura [para as mulheres] pouco antes da covid-19", explicou à AFP a belga Karen Van Godtsenhoven, especialista em moda da Universidade de Gante (Bélgica) e curadora convidada da exposição "Women Dressing Women" (Mulheres Vestindo Mulheres, em tradução livre), de 2023, no Metropolitan Museum of Art, em Nova York.

"Mas a covid influenciou a sociedade em geral, com um retorno a formas de pensar mais conservadoras e reacionárias. Para a indústria da moda, isso significou voltar aos velhos hábitos do estilista masculino solo", acrescentou.

Para a autora americana Dana Thomas, especialista na indústria do luxo, esse retrocesso se explica pelo domínio de grandes empresários conservadores e relativamente mais velhos à frente de grupos como LVMH, Kering e Chanel.

"Acho que a Chanel perdeu uma grande oportunidade ao não contratar uma mulher para liderar uma marca fundada pela mulher mais famosa e influente do mundo da moda", afirmou, referindo-se a Gabrielle "Coco" Chanel.

- O mito do "gênio criador" -

A Chanel não é o único caso: criadas por mulheres, as marcas Lanvin, Nina Ricci, Schiaparelli e Celine "agora têm homens como diretores artísticos", lembrou Dana Thomas.

As nomeações de Sarah Burton para a Givenchy no ano passado e de Maria Grazia Chiuri na Fendi na terça-feira são exceções.

A renomada marca Hermès, que teve duas estilistas mulheres em seu cargo máximo por mais de uma década, anunciou nesta sexta-feira (17) a saída de Véronique Nichanian, que passou 37 anos à frente da linha masculina.

Vários fatores explicam esse predomínio masculino, de acordo com a análise do sociólogo Frédéric Godart, pesquisador do instituto de negócios francês INSEAD.

Primeiro, ele diz, trata-se de uma indústria "historicamente dominada por homens", caracterizada por ritmos de trabalho muito exigentes e pouco compatíveis com as obrigações familiares, que muitas vezes recaem sobre as mulheres. Além disso, as desigualdades salariais persistem.

Ele também aponta para o mito do "gênio criador", que influencia os executivos que tomam decisões.

Para Karen Van Godtsenhoven, as últimas estilistas da Chanel e da Dior eram vistas mais como figuras de transição ou de continuidade.

A especialista lamenta que as mulheres permaneçam presas a "papéis artesanais", já que estão presentes em todos os níveis de produção. Os homens, por outro lado, são considerados visionários da moda.

- Nova geração -

E não é que falte talento feminino na indústria: as escolas de moda continuam formando mulheres em sua maioria e elas também estão bem representadas nos cargos de gestão.

Chanel, Gucci e Dior são administradas por mulheres: Leena Nair, Francesca Bellettini e Delphine Arnault, respectivamente. Na Kering, elas ocupam 58% dos cargos de gestão e representam metade do comitê executivo. A LVMH, contactada pela AFP, não quis fazer comentários.

Diante das dificuldades para obter os cargos criativos mais altos, várias estilistas, incluindo Iris van Herpen, Molly Goddard e Simone Rocha, decidiram seguir os passos da pioneira Donna Karan e criar suas próprias marcas.

"Há toda uma geração de mulheres muito, muito talentosas, e elas simplesmente não têm oportunidades", lamentou Dana Thomas.

T.Bastin--JdB